Estou sentada na
esplanada de um bar à beira-mar. Acabei de terminar um mini trabalho para
entregar amanhã. Enquanto fui passando a carta que me pediram para
dactilografar, fui relembrando os meus objetivos a curto prazo, aquilo a que me
propus tentar alcançar por forma a melhorar a minha vida em todos os termos,
tanto profissionais como emocionais. Algo me falha. Sempre me falhou. Talvez o
medo de errar, de aceitar imperfeições no meio da tentativa de alcançar a
perfeição que não existe. Um dia, disse, no meio de mulheres iguais a mim e
cujas admiro pela determinação, que gostava de acreditar mais em mim e nas
minhas capacidades, gostava de ter a capacidade de arriscar mais, de me lançar
no desconhecido. Sim, às vezes quebro por ter medo do desconhecido. Sempre
gostei de ter os pés sempre bem assentes no chão, de controlar as situações por
forma a não cair em situações embaraçosas ou até desagradáveis. Sou, nesse
aspeto, bastante controladora. Detesto desordem, provoca o caos, problemas.
Mas, por vezes, quando as coisas chegam a limites que não dá para controlar, o
chão debaixo dos pés treme ou desaparece.
De repente, dou-me
novamente a pensar num tema que verifico recorrentemente.
Sempre achei que as
pessoas são demasiado egoístas para entrarem em relações sociais, homens e
mulheres. Sempre achei que o pensamento se encontra limitado pelos estereótipos
da sociedade, principalmente a portuguesa. Se és solteira e com mais de 30
anos, não podes travar conhecimento com um homem, que logo se pensa que queres
algo com ele. E relação de amizade, onde fica? E mesmo que surja o
interesse…será que as pessoas não têm a capacidade de ter uma conversa franca e
séria ao ponto de estabelecer limites, de dizer um sim ou não assertivo. Neste
momento, não. Olham muito para o pacote, para o que o outro pode dar ou não.
Não conseguem simplesmente falar, conversar, assumir posições, sentimentos.
Preferem ignorar, não conhecer. Vivemos numa sociedade tão egoísta. Ainda estou
aqui no bar…a beber um fino, sim fino e não imperial, e a pensar…ás vezes,
quando convido as pessoas, é com o objetivo de que elas saiam mesmo, que
convivam, que percebam que todos somos diferentes, todos temos as nossas
imperfeições, todos corremos atrás de sonhos, todos nós temos qualidades e
defeitos e é isso que nos diferencia. Será que não compreendem que estão a ser
injetadas com ódio, egoísmo, falsos moralismos, informação despropositada,
stresses, interpretações erradas…. Estou aqui ainda a beber o fino e adoro
gozar a vida assim…sentada numa explanada, a olhar o horizonte, a ouvir uma
música de fundo que relaxa, a conversar, brincar, experienciar, libertar
sentimentos, tomar posições, dar opiniões com calma, saber discutir um bom
tema, sem entrar em discussões fúteis por detrás de um ecrã. Estamos a acostumarmo-nos
a uma vida sem teor social, sem as idas ao café ao final do dia ou depois de
jantar para conversar, estamos a ser consumidos pela monstruosidade dos media e
das novas TIC, estamos a deixar de lado tudo aquilo que nos difere dos animais,
a capacidade de relacionamento e troca de informações, porque dominamos a
palavra. Restringimos o nosso mundo apenas ao que de melhor nos representa, não
nos mostramos num todo, enganamos as pessoas de tal forma que existem depois
sempre grandes desilusões. Não temos os tomates para assumir atitudes. Falamos
mal uns dos outros nas costas, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Por
detrás de um ecrã conseguimos ser quase os donos do pedaço, mas em frente das
pessoas, cara a cara, somos tão cobardes, que até gaguejamos. Não somos assim
tão maus. Somos humanos. E temos a capacidade de saber distinguir entre aquilo
que nos faz bem e o que nos faz mal. Uns dão demasiada importância a pequenos
pormenores, outros desvalorizam, mas no fim, o que contam são as pequenas atitudes
que temos de ter para com os outros para que tudo fique bem, para que ninguém
sofra. Mas, o egoísmo acaba por transformar o outro em coisa…
O que é que nos leva a
postar apenas a nossa parte boa? Mostrar aos outros que estamos bem? E a nossa
parte menos boa? Não mostramos? Não falamos? Porquê? Vamos enganar os outros
naquilo que somos só porque dizem que não é politicamente correto ou que não
devemos colocar questões privadas nas redes? Mas quando postamos situações da
vida privada que nos fazem felizes, quando postamos frases moralistas porque
supostamente nos identificamos com elas, não estamos a partilhar questões
privadas? Cheguei a ter muitos atritos com pessoas nas redes porque não sabiam
aceitar opiniões minhas desfavoráveis em relação a tomadas de atitudes das
mesmas e isso deixa-me triste, porque verifico que elas não são capazes de
lidar com uma critica construtiva, ainda para mais quando ela se torna semipública.
É triste ver que as pessoas começam a tratar-nos como pessoas de má índole apenas
porque tivemos os tomates de ter uma atitude e de enfrentar ou libertar os
nossos sentimentos. Acabam sempre por levar para o lado mais negativo, mais
critico. A capacidade de aprendermos e de nos autorregeneramos também passa por
saber ouvir aquilo que, por vezes, não queremos. Só assim o individuo tem a
capacidade de mudar e de crescer como pessoa. Pode ouvir as opiniões, não
concordar e tudo fica bem, até porque todos pensamos de forma diferente. Mas o
incorreto será sempre expor essa opinião contrária, negativa, publicamente,
porque o outro olha logo como ataque pessoal, como humilhação do seu próprio
ser, como altivez pela parte do outro. Acredito que em certas situações isso
aconteça sim, mas o tom será sempre bem diferente. Quando nos indagamos publicamente
contra alguém ou contra alguma atitude que desgostamos da pessoa, estamos a ser
frontais e sinceros e muito melhor, espontâneos. Mas até a espontaneidade pode
ser negativa.
Já não me encontro a
beber um fino, embora hoje de tarde tenha dado ar da sua graça. Agora
encontro-me sentada no sofá, de pernas dobradas, a pensar que devia fazer
aquilo que já há muito penso em fazer e que ainda não me saltou a tampa para o
fazer, ou melhor, apareceu algum tipo de inspiração de poeta que desponte para
que comece para aqui a escrever uma história. Gostava de escrever um livro.
Ainda não sei bem sobre o quê, sobre que tema. Romance? Poderia afogar as
minhas mágoas num! Já que isto de romantismo e amor está mais escasso que a
chuva este ano. Aliás, seria uma boa oportunidade para mostrar ao leitor mais
uma perspetiva sobre relações amorosas, mulheres, sentimentos e amor. Essa
palavra que pouco se encontra no meu vocabulário. Policial??? Hum…bem…nunca
tive muita queda para sequer ler, quanto mais escrever, mas nunca se sabe.
História cómico-dramática???... Seria fácil…bastava falar de toda a minha
vida!! Documentário histórico…já pensei em fazer sobre as Alhadas, mas esse…só
com muita ajuda e coautores. Histórias para crianças? Bem…eu nunca tive muito
jeito para crianças e sou sincera, que tenho alguma dificuldade em manobrar uma
e passar os tempos das birras, pois dão-me cada volta ao cérebro. É nessas
alturas que penso sempre que não quero ter filhos, embora gostasse, por outro
lado, de perpetuar os meus genes (alguns, outros não!). E se calhar até teria
facilidade em arranjar objetos, meninos e animais a falarem uns com os outros.
Sempre tive queda para príncipes, reis e princesas. Resta saber o enredo, pois
nessa área já há de tudo. Também há os de fantasia, tipo Porter, o Harry, mas
também não é muito a minha praia! Resta-me o de ficção cientifica! Raios, nunca
fui híper mega fã de Star Trek ou Star Wars. Mentira! Na altura até gostava de
ver…mas era o que tínhamos! Nada contra quem gosta, atenção. Calma, ainda posso
enveredar pelo erótico e se calhar até me safava bem, já que em mind games sou bastante intuitiva.
Portanto, romance ou livros para crianças ou erótico.